Hoje, subindo a ladeira da Alameda das Latânias, ouço um burburinho. Uma voz que ecoa entre árvores e carros estacionados: para aqui ó!; volta; para aqui!
Bem de longe, procuro e não encontro, o motivo de tamanha algazarra. Fito os olhos entre o passeio e uma velha lixeira abandonada. Lá... bem distante; longe para que pudesse enxergar, mas perto para que pudesse perceber um carro velho dobrando a esquina.
Mais um pouco de barulhos estranhos, era Domênica gritando com alguém que estacionava um veículo distante de sua casa. De soslaio, ela foi na direção do carro que voltara um pouco, mas não o suficiente para que a sua filha respondesse o seu chamado.
Nesse instante, percebi que a moça já estava fora do carro e quem o conduzia era o seu marido, que pouco se importava com as lamúrias de Domênica.
Enquanto o trio barulhento entrava em acordo, eis que surge por detrás de todos ela, Maria Flor. Mais rápida que um outro carro que descia a alameda, a doce e saltitante cadelinha passou de passagem pelos seus donos e por trás daquele carro. Houve uma pequena pausa na conversa da família. Todos simultaneamente começaram a gritar o seu nome: Maria Flor; Maria; Flor; Maria Flor...
Neste intervalo, consegui me aproximar dos simpáticos vizinhos, mas estava do outro lado do passeio. Maria Flor toda feliz com o seu laço colorido sequer me olho. Ela passou por como um raio...
Depois de várias apelos e chamados em vão, Maria Flor escolheu entre os três supostos donos, Dona Domênica. Parou; encolheu-se; deu mais algumas sacudidas no laço; lambeu o traseiro; e, ergueu as suas patas dianteiras toda feliz e se entregou à sua dona.
Pensei em até tirar uma fotografia da cena, mas refleti um pouco e não quis invadir a privacidade da cachorrinha. Olhei para trás e vi que Domênica se esforçava muito para segurar a saltitante cadelinha, que sacudia no seu colo.
Acredito que no seu pensar canino, Maria Flor não se importava muito com o mata leão que recebera. Ela tinha uma expressão de pura felicidade.
Enquanto isso, eu sentia uma sensação de déjà vu, quando Maria Flor é novamente conduzida de maneira coercitiva para casa.
Todavia, hoje, sem dar uma palavra. Não latiu e nem rosnou, estava curtido a vida e o seu laço colorido.
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