quarta-feira, 5 de novembro de 2014

PALAVRAS, HOMENS e MITOS

Quando não encontramos explicação para um determinado tema, procuramos conceitos dos mais diversos para tentarmos identificar o conflito, outrora criado, por nós mesmos. A palavra é o gênesis, o início de tudo, porém, também pode ser o apocalipse, o possível fim. Quando Deus criou o mundo e as coisas, foi através da palavra que vidas vegetais e animais surgiram e, também foi através da palavra, que o homem foi feito. Segundo a palavra de Deus, ou seja, a Bíblia; Deus disse: “faça-se o homem”, e dessa forma o homem surgiu e a partir do homem muitas outras palavras surgiram. 

O homem que é possuidor do instinto gregário, necessita sempre de uma companhia, ou viver em bando numa sociedade e/ou em grupos. A partir do desejo natural do homem, ou melhor a partir da palavra ordenadora de Deus fôra criada a mulher. Da mulher surgiram novas palavras e partir do convívio entre esses dois seres semelhantes, porém tão diferentes, no agir e pensar, surgiram os conflitos naturais comuns de linguagem e compreensão; de fala e poder e do poder da fala. Quanto ao resto, todos nós já estamos cansados de saber, desde que o mundo é mundo, que existe uma eterna briga entre sexos (e não digo tão somente entre um contra o outro) que nos leva a discussões intermináveis e a produção de centenas de milhares de palavras com o objetivo de explicar o homem. 

Todavia, para acreditarmos em todas essas palavras, inclusive, estas que utilizo na escrita desse texto, é preciso que acreditemos em mitos, ou melhor, nos mitos ou no sentido mitológico da essência, sem avançar para a existência. Também é salutar lembrança de que mito também é uma palavra, logo, tem seu poder enquanto palavra. É através dos mitos que tentamos conseguir respostas para uma série de perguntas, que nós mesmos elaboramos. Podemos também utilizar a negação de dúvida para atribuir sentindo àquilo que não tem sentido. Para decifrar a natureza, tentamos buscar soluções bem ilustradas ou místicas. Desse modo, podemos dizer que o homem criou seus deuses. Então surgem outras perguntas: Quem criou quem, Deus o homem ou o homem a Deus? Quem veio primeiro, através da palavra, Deus ou o homem? Muitos estranharão essas duas indagações, mas as palavras têm o poder de chocar tanto quanto harmonizar. Não obstante, foi através desses dois tipos de palavras ou perguntas que o homem avançou nos estudos e, das suas dúvidas sobre essência e existência descobriu-se as ciências e as artes. Mas, esse, já é um outro assunto que não cabe nesse breve estudo do homem no contexto da relação entre as três palavras propostas no título. Bem, voltemos a falar do homem; foi através da observação da natureza que o homem evoluiu e criou suas teorias, além dos artefatos necessários para sua subsistência. Para suprir ou realizar seus desejos e vontades, ou mesmo se guarnecer de suprimentos, o homem passou a observar a natureza e buscar nela tudo o quanto fosse necessário para sua sobrevivência; por exemplo: alimentação, vestuário, moradia, etc,. Mas, sobrava ao homem algo que não existe, que é o tempo, então o homem passou a observar as forças da natureza se interagindo. E, a partir daí, ele, que faz parte de todo este processo, passou a gastar parte do seu tempo na tentativa de estudar e descobrir as coisas; suas utilidades; sua função; sua transformação; e até mesmo, a si próprio. 
Tudo se relaciona através da palavra, e a partir dela identificamos pessoas e coisas, logo, é através das palavras que conceituaremos a origem da palavra, mas nos perdemos, quando procuramos novas palavras para falar do homem. Se para conceituar o homem é complicado, pois existem bilhões de homens diferentes na terra, logo, ao relacionarmos os mais diversos tipos de homens, nos reportaremos à uma outra palavra chamada PESSOA; então, individualizaremos o homem quando nos delimitamos a falar de uma pessoa? Ora, então como se explica a existência de Deus, se esse não é uma pessoa? Então, através da palavra de Deus, descobrimos que Ele virou homem, porém, também virou palavra, ou melhor, Verbo; e o Verbo se fez carne, e o Verbo era Deus. Então, o homem veio primeiro que Deus? Nesse contexto, sim. E no conceito da existência, podemos afirmar o mesmo? Fica difícil o estudo, pois temos a teoria da evolução e a teoria mística do homem. Podemos dizer que o homem é o deus de si mesmo, mas não podemos dizer que Deus é o homem inacabado ou em estado superior. Nesse contexto, Deus é quem passa a ser inacabado, pois ele veio a terra em forma de homem para salvar o homem de si mesmo; suas angústias, fobias e culpas, que aliás, é representado pela palavra pecado há anos. 

Os mitos são passados de geração a geração e são as respostas das inculcações da mente do homem. Esse necessita da interação para satisfazer suas dúvidas em relação a tudo aquilo que lhe foge o controle. Por isto, o homem gosta do poder; de controlar tudo e a todos, inclusive, a natureza e as forças naturais e sobrenaturais, aliás, esta criada por ele mesmo. Partindo desse princípio, o homem passou a criar seus deuses, seus diabos, suas crenças, seus dogmas, suas doutrinas, leis, moeda, angústia e aflições e, também, passou a mimetizar tudo isso. A sensação de catarse surgiu de um estado de ebulição para justificar as utopias e fugir da realidade. O homem seria um escapista por natureza? Ora, é comum e natural do homem utilizar os mitos da forma pela qual lhe for conveniente e diferente a cada situação. É comum ele se converter a várias religiões e mudar de posição política, mas o homem será sempre um ser complexo ideológica, filosófica e culturalmente. Assim, como é comum utilizar as palavras, a fala e a escrita para expor suas idéias momentâneas, através de uma gama de argumentos convincentes e persuasivos. Não pense que, com apenas isso, o homem se satisfaça. Ele necessita dominar outros homens, através dos mitos, ou das palavras. A palavra é a própria negação da palavra pela palavra; a palavra fere e assopra com a mesma intensidade. Vida e morte são palavras pequenas, mas cada uma, mesmo aparentemente, possuindo tamanhos similares e significados opostos podem ser análogas na essência, sendo distintas na existência. A exploração do homem começa na palavra e termina na palavra; são razões e emoções que esculpe com uma mesma idéia, e é com a cultura e com o padrão sócio-econômico que observamos, nas entrelinhas, a relação de exploração e domínio. É, com o domínio da palavra que se tem o poder, logo, se misticamente Deus é o Poder, e o homem dominando a palavra acaba por dominar a Deus, e em nome de Deus se faz tanto coisas benéficas e más, indiscriminadamente. Mas, o pior é que, quando o homem alcança o mais alto posto e passa se julga um Deus, este, não só conduz outros homens, mas seduz a humanidade a ambicionar o mesmo, ou a se espelhar nele para galgar postos mais altos em todas a relações sociais, econômicas, financeiras e políticas. 

Bem, não poderia deixar de correlacionar esses três temas: homens, palavras e mitos, e também não tem nenhuma importância a ordem deles. Isso se justifica, porque se o homem é, a palavra, a palavra é o mito, o mito é o homem que, por sua vez, é o deus de sua própria palavra, que na ausência de palavras (ou respostas) cria os mitos; mitos esses que matam as palavras, camuflam a possível descoberta do homem pela palavra que ele deixou de procurar depois dos mitos, inibindo o avanço da ciência, que por sua vez, é um mito para o homem seguir um deus qualquer; e Deus que é a palavra, o Verbo que se fez carne quando se tornou homem, e que se foi em espírito e carne e nos deixou outras palavras e leis. E segue essa cadeia de palavras, mitos e de homens. 

“Creia na Palavra, e Ela te libertará” 

O interessante é o poder da palavra. Contudo, pergunto: no poder de qual palavra acreditar, na de Deus ou na do homem? Qual é qual? Quem é quem? Se Deus fez o homem à sua imagem e semelhança, logo, não seria o homem o próprio Deus? Se Deus é um mito do homem, logo, esse homem, não foi o criador de Deus? Deus não poderia ser um mito? A partir das reflexões feitas através de palavras, se vindas de um homem Deus, que se inspirado pelo Espírito Santo de Deus, não seriam tais palavras uma nova lei? Ou seria mais um mito? Ou, simplesmente, o poder das palavras se restringe aos homens que escolhidos pelos próprios homens se intitulam em nome de Deus? 

Contudo, para concluir, quero mudar o mote dessas divagações e indagações, isso porque, culturalmente, não estamos preparados para discutir os mitos nem na mão, muito menos, na contramão, num claro confronto com a ciência e, muito menos, em detrimento das doutrinas arraigadas por todo o mundo. Desde que o mundo é mundo os mitos existem e a ciência também sempre esteve presente, um passo à frente ou atrás, cada cientista tem sua visão e até sua crença e, ambos, estão à frente de suas limitações enquanto homens. O homem, por sua vez, pesquisando a ciência, Deus e seu mito nunca conseguiu conhecer a si mesmo e, mesmo que o faça, sempre haverá algo obscuro. Daí se justifica a sustentação de suas hipóteses através dos mitos; ele será sempre o mito de si mesmo, ou melhor, se o homem procurar conhecer a si próprio do que querer explicar através dos mitos ou nas possibilidades de revelação através da ciência, talvez, esse se aproxime da realidade e passe aceitar a si próprio e os outros com maior naturalidade. Senão, continuará esse ciclo vicioso da razão oscilante e da emoção constante, parece aquela história do cachorro correndo atrás do rabo; ele fica correndo, tentando morder o próprio rabo até se cansar, quando vê que não consegue alcançar correndo, se esquece e deitado, calmamente, lambe o rabo, mas, se ele voltar a correr e o rabo cair na sua frente, ele não sabe o que fazer, e fica com o rabo na boca até achar uma nova diversão. O homem não sabe e nunca saberá tudo, ele pode saber parcelas de algumas coisas. Se o homem descobrir a si mesmo ele perderá o interesse pelo mistério e a ciência não fará sentido, por isso ele prefere descobrir a Deus ou a um deus qualquer para justificar sua incapacidade de si conhecer, de conhecer as palavras, ou seus mitos. Agora, meu caro leitor, eu vos pergunto: onde está a palavra? Eu poderia responder sem hesitar que a palavra está no homem; assim como o mito está no homem e, tanto o mito quanto o homem, são palavras inacabadas, indizíveis, indecifráveis e irreais. O homem não acredita no mito que ele mesmo criou, então investe em pesquisas para descobrir o mito através de palavras, códigos e símbolos. Logo algum descrente no homem poderá concluir que o mito é o homem em um estado inconsciente, ou ainda que o homem é um mito fora do corpo do homem. Mas, tudo isso não passa de uma grande bobagem, pois quem vos fala, utilizando várias palavras, é um outro homem que não tinha mais nada a fazer senão perturbar o espírito dúbio do homem. E em palavra de homem ninguém deve duvidar. 

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