terça-feira, 23 de dezembro de 2014

EXCLUSÃO DESUMANA

No passado
Fui excluído
Encarnado e
Esculpido
Na miséria
Dos meus pais
Que me abandonaram
À sorte das musas
Com sorte
Sobrevivi
Apesar da fome
Em que pese o homem
Daria tudo
Por uma bolsa cheia
Não de dinheiro
Apenas de pão
Ou qualquer outro alimento
Já seria o suficiente
Porque a alma
Sim estava alimentada
Do discurso alheio
Sem pão de centeio
Filho de pai e mãe
Ausentes
São apenas seres
Indigentes
Que vivem da caridade do outro
Se não tinha bolsa
Seria porque sequer
Tinha família
Que me taxava de peso morto
Muito embora fosse raquítico
Desnutrido
Sem bolsa e sem família
Cercado numa ilha
De parentes de tinham tudo
Do bom e do melhor
É, a exclusão,
Essa conheço desde
Aquilo que outros
A chamavam de casa...
Agora, vejo as cadeiras vazias
Azul cor da dor
Mas esses objetos
Jamais foram abandonados
Apenas descansam
Se refrigeram á luz do sol
Que bronzeia sem queimar
A tua tez privilegiada
Enquanto passeias
Enquanto pescas
Enquanto contemplas
Lá no morro
Aonde há degraus
Não no teu mar
Que sequer muitos conhecem
O pau come
Apenas o pau come
Não o menino...
Não tem como mimetizar a desigualdade
Apenas a fome pode ser pintada
Em cores azuis
Como deve ser o sangue
Daqueles que passeiam
Nas ruas dos meninos
Rua essa que os exclui
Rua essa os abandona
Rua essa que os ampara
Antes do amargo sabor da bala...
Tal qual as almas cortadas]
O meu espírito também fora retalhado no passado,
No cárcere privado que vivi,
me alimentando apenas da própria saliva,
mastigando e engolindo seco a fome...]
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