quarta-feira, 30 de novembro de 2016

CONTO DE FÉ

Lembro-me de uma senhorinha, Dona Geralda, que sempre visitava uma loja na qual eu trabalhava. Ela mal adentrava na loja e logo começava a prosa, falava do seu trabalho de empregada doméstica e do cansaço do dia. Dona Geralda contava a sua vida e os seus sonhos, tudo em menos de cinco minutos. A sua voz era em tom muito baixo e também um pouco rouca. Aliás, as suas palavras eram carcomidas e de difícil entendimento. Comerciantes vizinhos também gostavam de prosear com ela sempre esperando uma pérola. Com o tempo, passei a compreender a sua fala naquela incompreensível dicção, meio rouca e meio gaga. Quase que todos os dias conversávamos e sempre, do nada, mais que repente, se eu falasse algo que ela achava absurdo, ela fazia o sinal da cruz e dizia com o peito cheio de orgulho, claro, sem saber ao certo o que dizia: "eu sou catótica; apostótica; romântica." Eu sempre concordava com o essa última palavra, romântica. Na sua simplicidade, ela era mesmo uma romântica, na sua fé e no sou orgulho de repetir o que todos diziam, muito embora fizesse uma pequena confusão com as palavras.

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