quarta-feira, 12 de junho de 2013

Manifesto Virtualidade

Não se teve a pretensão de escrever "O Manifesto", queremos registrar aqui apenas mais um manifesto: o Manifesto da Virtualidade. Tão copiosamente como fizeram tantos outros, em outras eras, como diria o meu companheiro das Belas Letras Romeu Prisco "nas priscas eras", assim o faremos. Contaremos verdades e mentiras, mas contaremos tudo; sem medo de publicar; sem medo de compartilhar; sem medo de sermos aceitos. Outra mentira explícita, aqui, será a pessoa a qual escreveremos o texto deste manifesto, pois o faremos na primeira pessoa do plural como outros fizeram. Na verdade, eu estou escrevendo; sozinho; de mãos coladas no teclado; de olhos fixos na tela. Aliás tal manifesto tem tudo a ver com telas, só não me pergunte quais telas, pois elas podem ser das mais variadas, dependem apenas das mãos, olhos e mentes que as utilizam no seu processo de criação ou manifestação das Artes.
Nossa arte será inicializada com letras maiúsculas; terá bordas, ilustrações, imagens, riscos, rabiscos, sujeira, poeira, sal, cal, sangue, lágrimas, risos, gírias, abreviações, cortes, filmes, movimento, cheiro, cor, brilho, exagero, falsidade, falsas assinaturas, falsos heterônimos, falsos pseudônimos, falsos provérbios, falsos ditados e, até, falsos manifestos.
Bem vindo à era da virtualidade. Lembre-se virtualidade e não virtualismo. O virtualismo existe e já o foi manifestado por pessoas que utilizam as ferramentas disponíveis para agregar e divulgar a arte dos poetas e/ou escritores virtuais. O virtualismo tem vício de origem, pois utiliza algo pronto para construir um movimento. Já a virtualidade explora o lado artista do individuo, sem o inserir em nenhum movimento. A virtualidade abarca várias correntes perdidas no tempo. Não queremos taxar nenhum movimento ou estilo de época artístico e/ou literário com termos pejorativos. Muito menos queremos combater nenhuma manifestação da arte feita anacronicamente. Não queremos ser os donos da verdade, nem queremos tampar o sol com a peneira quando o assunto em debate for a liberdade de criação.
Queremos pensar e ter liberdade para externar nossos pensamentos, e não importa de que maneira o fazemos. Queremos uma arte livre e sem amarras; sem senhas; sem login; sem censura; sem crítica. Queremos expressar o belo através de temas universais, mas com a visão local e localizada. Queremos manifestar a nossa arte em textos e/ou outros meios gráficos que passam uma realidade virtual semelhante à dita realidade real. Hoje, muitos confundem os diversos tipos de relações taxando de realidade virtual; ou amizade virtual; amores virtuais; relações virtuais; poetas virtuais; etc.
Não vamos expressar nada diferente daquilo que outros já expressaram. Vamos fazer tudo girar, assim como a terra e os astros giram, em movimentos de translação e rotação. Vamos fazer com que nossa arte invada o maior número de lares, tarefa difícil com a exclusão digital que assola o mundo devido as discrepâncias econômico-sociais. Todavia, num futuro próximo, mais pessoas terão acesso as novas tecnologias que tornarão factíveis o uso de outros aparelhos e ferramentas para disseminação da informação e da cultura. Num futuro próximo, tudo chegará mais rápido até àqueles que não têm posse para adquirir os produtos de consumo da modernidade.
Então, vamos fazer a nossa arte e torná-la de mais fácil compreensão. Fazer arte é fazer amor com a vida. E, por que não utilizar os mais variados recursos de diagramação, formatação e sonorização dos textos, telas, desenhos, quadros, filmes, etc. É certo que muita coisa foi banalizada, mas podemos filtrar tudo e reter a sujeira, além de fazer da sujeira um tipo de arte. Temas banais como: amor, sexo, sexo com amor, amor sem sexo, sexo sem amor, amor com sexo, todos serão temas abordados de forma repetitiva. Porém, não se deve fechar os olhos ao sensualismo, erotismo e, até, à pornografia, pois tudo isto existe e pode ser tratado de maneira bem artística. Todas as mazelas podem ser contadas, pois se tiver arte tudo pode obter uma leveza, até aquela leveza somente imaginária.
Fazemos arte e, ponto final, quem não gostar que a delete e se cale para sempre, ou melhor, pode calar, falar, falar e calar, calar e falar, mas acima de tudo, que defenda o seu ponto de vista através da arte. Que façam releituras, façam manifestos ou cordéis. Queremos que pratiquem o que praticamos, antes de ditar teorias inaplicáveis.
A virtualidade é subjetiva e confusa. Aliás, depois da pós-modernidade tudo é confuso, pois com o advento do computador, a arte se tornou um objeto de relaxamento de muitos que até então não tinham coragem de pegar lápis e papel. Muitos seres pensantes, talvez, não tinham habilidades e competências para manifestar os seus pensamentos através da arte, e não importa qual seja a manifestação artística. Podemos fazer arte com as mãos, pés, cabeça, mentes, olhos, corpos, etc, mas não conseguimos submete-la aos olhos críticos dos leitores e/ou admiradores. Tudo parece tão insignificante aos olhos do Outro (isto na nossa visão, sem generalizar, é claro).
Na era do ponto com e do htm e do seu irmão o html, queremos conectar a todos com o futuro, mas podemos utilizar o passado, contando que estejamos presentes e plugados. Somos os inventores da roda quando plagiamos os arcaicos, mas nunca seremos plagiadores de idéias, pois os seres humanos são dotados de inteligência e muitos podem pensar coisas semelhantes num mesmo momento, porém, uns as eternizam, outros não. Talvez, alguns ainda guardam seus pensamentos a sete chaves. Outros são mestres em usar a chave-mestra e, fazem da poeira da grande net o simulacro de idéias enterradas nas mentes sombrias e frias e sem-memória virtual de uma máquina. Escrevem e guardam em arquivos doc. Escrevem e gravam em memória run, já obsoleta e ultrapassada. Assim, criamos os nossos próprios monstros. Saímos do subconsciente para o consciente, mas deixamos para trás os cookies e ides.
Na virtualidade cabem todas as mentes e corpos; cabem mundos; cabem países, raças, cleros e quaisquer ideologias. Podemos pensar e fazer nossos pensamentos virar poesias, contos, romances, crônicas, piadas, quadros, esculturas, molduras, ornamentos, etc. Tudo é arte quando há concepção. Tudo é arte quando sem explorar o poder de criação, criamos ou recriamos. Tudo é arte mesmo que copiadas e arrastadas por ratos. Tudo é arte quando se transcreve. Tudo é arte quando se imita. Tudo é arte quando mesmo que de forma rebuscada voltamos ao passado com olhos presentes na contemporaneidade e/ou no futuro. Tudo é arte quando se é erudito. Tudo é arte quando recorremos ao período primitivo do ser que só sabe fazer criar, ou seja, o homem.
Aliás, o homem é o maior criador de si mesmo. O homem é o marco da sua maior criação: a liberdade. O homem, mesmo possuindo espírito gregário e necessitando do Outro, consegue fazer algo para si próprio se projetando no outro. O homem faz a arte para se satisfazer, mas depois a quer ver nas mãos do Outro, para o seu prazer final. Nada é estanque, mas a arte se fecha com a arte, quando o homem se fecha para o homem. O homem é capaz de cometer o mesmo erro milhões de vezes, mas é incapaz de reproduzir a mesma arte obsoleta por muito tempo, pois ela evolui com o homem. Assim surgem os estilos distintos e contrários. Assim, se estabelecem os conflitos. Assim, os olhos que antes viam o belo passam a ver o horror. E a arte não pode ser manifestada através do horror? Claro que pode, aliás alguns gêneros utilizam o horror como mola propulsora para externar as agonias do homem, ser complexo que ama, chora, rir, mata e morre. O homem é a arte mais que perfeita na sua imperfeição. O homem é tão perfeito que cria os seus próprios deuses e os seus próprios demônios. O homem é um artista nato, basta aceitar a si mesmo e sair da sua condição de inato, sentar-se consigo mesmo e observar o seu interior. Encontrando o homem dentro do homem, ali estará acessa a chama da liberdade e da criação. Como ilimitado é o homem, o limite do homem é o próprio homem. Inimigo do homem é o próprio homem. Inimigo da arte é a própria arte. A antítese do homem é o homem, logo, o fim do homem será o próprio homem. Todavia, enquanto isso não ocorre, vamos explorar o lado criador do homem. Vamos inicializar o homem no processo de autoconhecimento enquanto artista. Vamos explorar o lado belo das estéticas ultrapassadas, copiando-as ou imitando-as, mas quem quiser crescer terá que criar o seu próprio estilo, ou fugir dos estereótipos e/ou dos arquétipos. Este manifesto nunca estará acabado, pois a arte é inesgotável e inacabada. Como pregamos a liberdade, muitos rechaçarão ou refutarão este manifesto, mas certamente o aceitarão como o pontapé inicial para propor algo novo, assim com o uso das novas tecnologias propuseram, meio que sem querer, o virtualismo como expressão das artes.
Contudo, a virtualidade, estado de quem é real e utiliza o virtualismo como forma de divulgação de sua arte, chegou e se firmou para balançar as estruturas consistentes dos editores em papel. A virtualidade não propõe o fim do palpável; do impresso; do sedimentado; do tocável; do admirável em várias perspectivas; etc.
A virtualidade abre espaço para as divergências, mas deixa uma lacuna para as convergências de idéias, mesmo que expostas de maneiras distintas.
Neste sentido, iniciamos aqui algo que será construído no transitar deste manifesto pelo mundo, pois estamos na era da virtualidade e, sem vaguear pelo mundo, talvez, a virtualidade não tenha sentido de ser ou existir. Vamos deixar que este Manifesto cresça e se torne independente, livre e belo como a arte o é. Ide e levai a virtualidade ao mundo...
 
Virtualidade do poeta
 
Falam-me os vícios
A arte virtual
Traz sujeira
Porcarias viróticas
Assim como o sexo
Traz as DST
Assim com a loucura
Trazida pela LSD
Assim como o SPAM
Traz o pé-no-saco
Até o poeta
Traz letras em retas
Traz sílabas incertas
Traz palavras secretas
Traz orações sem rezas
Traz termos chulos e eruditos
Traz períodos simples e compostos
Traz versos novos e até decompostos
Traz estrofes melosas e cheirentas a bofe
Traz rimas morenas e brancas
Traz o quadro branco e negro
Traz o pó sem o giz
Traz o prego sem cabeça
Traz o nó sem garganta
Traz o rolo e a rola broxa
Traz o ópio do povo o circo
Traz merda sem trazer o penico
Traz o macaco, mas paga-mico
Traz camisinha sem ter pinto
Traz anticoncepcional sem ter útero
Traz a maldade e a falsidade mesmo sendo íntegro
Traz a dicotomia do bem e do mal
Traz até o homem sem trazer o animal
Traz a suruba e o bacanal
Traz coisas profundas, mas traz o bacana, o interessante e o legal
Traz muita coisa superficial
Traz a dor de barriga e também o sonrizal
Traz o bolso e o embornal
Traz a notícia sem trazer o jornal
Traz a xoxota na ponta do pau
Traz a religião e também o carnaval
Traz a língua-de-trapo e esquece a toalha
Traz a barba na ponta da navalha
Traz a goteira e também a calha
Traz a fogueira e a fornalha
Traz a Cláudia e esquece a raia
Traz a calcinha e abaixa a saia
Traz a cueca toda melecada
Traz o escorregão e esquece a escada
Traz tudo zipado como depois da trepada
Traz o chuchu e a cerca, mas esquece a puta
Traz o detetive, mas esquece a escuta
Traz a sílaba tônica, mas esquece a surda
Traz a cega e come a surda
Traz tudo que é traçável
Traz a cobra e a cascavel
Traz a escada para trepar no céu
Traz a chaminé e esquece o Papai Noel
Traz a rainha e deixa a torre de babel
Traz a alegria sem vestir fantasia
Faz da poesia a sua louca magia
Faz da virtualidade uma outra realidade
Faz do micro a sua companhia
Faz tudo sozinho por pura sacanagem
Faz da masturbação mental a sua arma letal
E no seu navegar diário encena a sua nunca derradeira viagem
Porque fora imortalizado através da virtualidade
 
Assinam este manifesto, os poetas:
 
Amaso Nib Nedal
José Jerónimo Junqueira
Mitnelav Id Oiggab
Pablo Nykcaht
Sara Magoo
Selvagem Sol
Taco Fod Cuppula
Teiquinho
Th Ac Kyn
Thaís Kristine Brunno de Oliveira Souza
Valentino Di Baggio [Valentim de La Muerte]
Falsas palavras são escritas e assinadas por falsos escritores, mas nunca se escreve um falso poema ou se pinta uma falsa tela. Ali, onde houve arte se fez Arte. Então, todos os seres, reunidos aqui, assinam o manifesto, por se tratar de pessoas que espalharam a poesia pelo espaço virtual; sendo virtuais sem ser reais; sendo reais na virtualidade marcada por colchetes, reticências, imagens, sons e figuras, além das figuras que se tornaram na figurada forma de ver a arte, ou na figurada maneira de formar novas vidas. Continuem...

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